Os icônicos bondinhos de Santa Teresa, um dos símbolos mais tradicionais do Rio, estão próximos de retomar o trajeto completo que liga o Largo da Carioca ao Silvestre, conexão interrompida há mais de meio século. Em obras há 12 anos, o trecho entre as estações Dois Irmãos e Silvestre deve ser concluído até o fim deste mês, segundo informações divulgadas por Ancelmo Gois, em sua coluna no jornal O Globo.
A previsão é que os testes operacionais comecem ainda em outubro, com viagens experimentais saindo do Largo da Carioca — algumas já com passageiros convidados. A reabertura total ao público deve ocorrer apenas em 2026.
O encerramento das obras está marcado para o dia 27 de outubro, com um passeio inaugural simbólico. O novo trecho permitirá que os passageiros do bondinho façam conexão direta com o Trem do Corcovado, recriando um percurso histórico fechado desde 1966.
Nova ligação histórica com o Corcovado
O trajeto até o Silvestre corta uma área arborizada da Floresta da Tijuca e deve incluir uma parada intermediária que servirá de integração com o Trem do Corcovado. A estação, parte do projeto original de 1884 inaugurado por Dom Pedro II, será revitalizada e transformada em um novo ponto turístico, com bar, restaurante e até um pequeno hotel, segundo o presidente do Trem do Corcovado, Sávio Neves.
“Queremos usar o Silvestre como base para um serviço inédito: o passeio sunset, ao pôr do sol. As reformas já começaram, e até 2026 planejamos inaugurar um hotel com oito quartos e um restaurante no local”, afirmou Neves.
Infraestrutura moderna e operação ampliada
O trecho de cinco quilômetros entre as estações Dois Irmãos e Silvestre ganhou trilhos novos, iluminação em LED e um sistema mais silencioso, semelhante ao do VLT Carioca. Faltam apenas 300 metros de trilhos para completar a ligação.
Segundo Ary Arruda Filho, diretor de Engenharia e Operação da Central, haverá uma viagem completa por hora até o Silvestre, além de viagens regulares até os ramais Largo das Neves e Paula Mattos.
Memória, cultura e pertencimento
O retorno do trajeto integral emociona moradores que acompanharam décadas de espera. O diretor de teatro Amir Haddad, de 88 anos, morador de Santa Teresa há meio século, celebrou a novidade:
“A expectativa é enorme. O bondinho é parte da alma do bairro. O importante é que o traçado original volte a funcionar por completo.”
Com novas regras de segurança implementadas após os acidentes de 2011, o transporte mantém sua essência histórica, mas agora com protocolos modernos — viajar em pé ou no estribo, por exemplo, não é mais permitido.
Desafios e sustentabilidade financeira
Após o acidente que paralisou o serviço em 2011, o governo estadual iniciou a renovação da frota em 2013. A operação foi retomada em 2016, mas apenas oito dos 14 bondes planejados foram entregues. Uma nova licitação está prevista para 2025.
Nesta fase, o Estado investe R$ 70 milhões para concluir a linha até o Silvestre e reativar o ramal Paula Mattos. Atualmente, os bondes transportam cerca de 2 mil passageiros por dia e cobram tarifa de R$ 20 — moradores cadastrados têm gratuidade. A operação, no entanto, ainda é deficitária: a receita mensal cobre apenas um terço do custo de manutenção.
Para o presidente da Associação de Moradores de Santa Teresa, Orlando Lemos, é essencial equilibrar o uso turístico e cotidiano do serviço.
“O bondinho não é só uma atração turística. É também transporte para quem mora aqui. Vamos lutar para que haja vagas garantidas aos moradores”, afirmou.






