O Rio de Janeiro celebra um de seus filhos mais ilustres. O Museu de Arte do Rio (MAR) abre neste mês uma exposição em homenagem aos 112 anos de nascimento de Vinicius de Moraes, poeta, diplomata e compositor que fez da cidade o cenário de sua obra e de sua vida.
A mostra, uma das mais abrangentes já dedicadas ao artista, reúne mais de 300 itens, entre manuscritos, fotografias, vídeos, livros e obras de arte, oferecendo um mergulho na trajetória do autor de “Soneto de Fidelidade”.
Entre os destaques está o Retrato de Vinicius, pintado por Cândido Portinari, exibido pela primeira vez no Rio, além de um espaço dedicado à Arca de Noé, com as ilustrações originais de Elifas Andreato, que encantam gerações desde a década de 1970.
Do menino poeta ao diplomata
Nascido em 19 de outubro de 1913, na Gávea, Vinicius cresceu cercado de música e poesia. Ainda adolescente, compôs “Loira ou Morena” com os irmãos Tapajós e, em 1933, publicou seu primeiro livro, O Caminho para a Distância, que despertou a admiração de Manuel Bandeira e Mário de Andrade.
Mesmo formado em Direito, seguiu o chamado da arte. Diplomata entre 1946 e 1968, foi afastado durante o regime militar, o que marcou uma virada em sua carreira. A partir daí, mergulhou de vez na música e se tornou um dos nomes mais populares da canção brasileira.
Parcerias e legado
Com Tom Jobim, criou a Bossa Nova e eternizou o Rio dos anos dourados. Com Toquinho, compôs mais de cem canções e realizou cerca de mil apresentações. Segundo o Ecad, Vinicius assinou 709 composições e tem 527 gravações registradas.
Sua obra atravessa temas como amor, infância, fé e boemia, reunindo lirismo e ironia. Entre seus livros mais importantes estão Forma e Exegese (1935), Poemas, Sonetos e Baladas (1946), Livro de Sonetos (1957) e A Arca de Noé (1970).
No teatro, Orfeu da Conceição (1954) transportou o mito grego para o morro carioca e inspirou o filme Orfeu Negro, vencedor da Palma de Ouro em Cannes (1959).
Um poeta plural
Para o escritor Ruy Castro, Vinicius foi “um ser plural”, capaz de unir poesia, música e filosofia. O biógrafo José Castello o definiu como “o poeta da paixão”, e Carlos Drummond de Andrade sintetizou:
“Ele tem o fôlego dos românticos, a espiritualidade dos simbolistas, a perícia dos parnasianos e o cinismo dos modernos.”
Vinicius de Moraes morreu em 9 de julho de 1980, aos 66 anos, vítima de edema pulmonar. Sua poesia, porém, segue viva — como o Rio que tanto amou e eternizou em versos.