O número de suicídios entre policiais militares do Rio de Janeiro alcançou em 2024 o maior nível desde o início da série histórica, em 1995. Ao todo, 15 PMs da ativa morreram por violência autoprovocada, ultrapassando pela primeira vez as 11 mortes registradas em serviço no mesmo período. O levantamento ainda contabiliza 34 tentativas, consolidando uma taxa recorde de 79 episódios por 100 mil profissionais.
Os dados fazem parte do Boletim de Notificação de Mortes Violentas Intencionais Autoprovocadas e Tentativas de Suicídio entre Profissionais de Segurança Pública – 2025, produzido pelo Instituto de Pesquisa, Prevenção e Estudos em Suicídio (IPPES) em parceria com a Polícia Militar do Estado do Rio. Para a coordenadora da pesquisa, Fernanda Cruz, a redução nacional nos números gerais não indica estabilidade. Ela afirma que o sofrimento psíquico entre agentes permanece profundo e constante.
O relatório também mostra crescimento expressivo nos afastamentos por adoecimento mental. Em 2024, a PM fluminense registrou 2.732 licenças psiquiátricas, maior marca em cinco anos, além de 1.927 policiais removidos das ruas para funções administrativas, um salto de 19,5% em relação ao ano anterior. Entre 2020 e 2024, foram mais de 10 mil licenças psiquiátricas e 69 suicídios envolvendo policiais da ativa e da reserva.
No panorama nacional, o boletim aponta 151 suicídios de agentes em 2024, número ligeiramente inferior ao de 2023, mas ainda considerado elevado. Nos últimos cinco anos, ao menos 818 profissionais tiraram a própria vida. O estudo também identificou 1.474 tentativas no período, com forte concentração na Polícia Militar. A subnotificação segue como um dos principais obstáculos, segundo o IPPES, especialmente em estados que não registram as ocorrências de forma padronizada.
Além do sofrimento interno, o levantamento destaca o avanço de homicídios e feminicídios seguidos de suicídio cometidos por agentes de segurança. Em 2024, foram 18 episódios, com 19 vítimas, a maioria companheiras ou ex-companheiras. Para as pesquisadoras, o acesso contínuo a armas mesmo após decisões de suspensão de porte coloca famílias em risco e evidencia a urgência de políticas de prevenção e apoio. No Rio, iniciativas como a parceria com o Ministério Público do Trabalho tentam avançar, mas especialistas afirmam que a corporação ainda enfrenta uma epidemia silenciosa.






