Os indicadores macroeconômicos do Brasil até mostram sinais de melhora, com inflação desacelerando e uma leve queda no endividamento geral. Mas, longe das estatísticas, o cotidiano das famílias continua marcado por aperto financeiro, contas básicas mais caras e uso intenso do cartão de crédito para fechar o mês.
Dados do Serasa revelam que mais de 80 milhões de brasileiros estão endividados, somando 321 milhões de dívidas ativas que ultrapassam R$ 509 bilhões. Em média, cada pessoa deve mais de R$ 6,3 mil. O perfil da inadimplência mostra maior concentração entre adultos de 26 a 40 anos e leve predominância feminina. Nas faixas de menor renda, qualquer desequilíbrio já é suficiente para empurrar o orçamento para o vermelho.
Levantamento da CNC aponta que mais de 80% das famílias com renda de até cinco salários mínimos estão endividadas. Apesar de o índice geral ter recuado para 79,2% em novembro, a primeira queda após nove meses, o patamar ainda é mais alto do que o registrado no ano anterior, indicando uma melhora lenta e instável.
No dia a dia, o cartão de crédito deixou de ser apenas meio de pagamento e passou a funcionar como complemento de renda. Muitos brasileiros usam o limite para comprar alimentos e pagar despesas básicas, entrando em um ciclo de parcelas que se acumulam. Com juros elevados, especialmente no rotativo, a dívida cresce rápido e se transforma em bola de neve.
O cenário é agravado pela taxa Selic ainda em 15% ao ano e pela alta persistente de itens essenciais, como alimentação e artigos de residência. Segundo o Banco Central, quase 29% da renda das famílias já está comprometida com dívidas, o maior nível da série histórica, sendo mais de 10% destinados apenas ao pagamento de juros.
Especialistas avaliam que programas de renegociação ajudam, mas não resolvem o problema estrutural. Sem crédito mais barato, aumento consistente da renda e maior educação financeira, o endividamento tende a continuar. Instrumentos como o seguro prestamista funcionam como proteção em momentos de crise, mas também não substituem mudanças mais profundas.
Enquanto os números indicam melhora gradual, a realidade de quem depende do cartão para sobreviver mostra que o alívio ainda não chegou ao bolso da maioria dos brasileiros.






