Milhares de jovens americanos têm sido recrutados por cartéis via redes sociais para contrabandear produtos e, principalmente, imigrantes ilegais, da fronteira com o México para outras cidades nos Estados Unidos nos últimos anos. As pessoas contratadas para realizar esses serviços respondem a anúncios que encontram facilmente na internet, nos quais criminosos prometem milhares de dólares, em pagamento rápido, por um serviço que parece simples: dirigir.
Uma investigação de seis meses da CNN revelou centenas de postagens de recrutamento no Facebook, TikTok e Snapchat — algumas em espanhol, mas muitas em inglês. Os recrutados geralmente são jovens adultos entre 18 e 25 anos. Entre eles, não há um perfil específico.
Vicki Brambl, defensora pública federal assistente em Tucson, Arizona, afirmou que certos fatores de risco — como antecedentes criminais, uso de drogas ou ter crescido em uma família de baixa renda — podem aumentar a probabilidade de alguém se envolver com contrabando. Mas, em um caso, o filho de um policial local estava envolvido.
As publicações analisadas pela CNN, que contêm anúncios de trabalhos de contrabando, seguem alguns padrões e terminologias veladas. A palavra “contrabandista” quase nunca aparece. Os recrutadores usam termos como “motoristas”, “choferes” ou “táxis”. Emojis de táxi ou carro tentam atrair motoristas. Os posts às vezes também incluem emojis de galinha para indicar “pollos”, gíria espanhola usada para se referir a imigrantes.
Essas estratégias servem para contornar as restrições de moderação de conteúdo nas principais plataformas, que têm enfrentado tentativas difusas de reprimir conteúdo relacionado ao narcotráfico. Por outro lado, para garantir que as postagens sejam destacadas nos feeds de usuários, os cartéis usam hashtags populares, como #fyp (para sua página) e #viral, além de marcar locais em centros populacionais ao longo da fronteira entre os EUA e o México.
Depois de estabelecer comunicação nas principais redes sociais, o recrutador geralmente transfere a conversa para o WhatsApp, que conta com criptografia de ponta a ponta e possibilita o rastreio de pessoas em tempo real.
Em seguida, segundo policiais e recrutadores no Arizona e no Texas, o contrabandista viaja horas ou até dias para obter coordenadas enviadas por seu recrutador anônimo — alguns de lugares tão distantes da fronteira quanto Nova York ou Seattle. Os coordenadores podem usar a localização em tempo real para monitorar seus motoristas no caminho — e postar capturas de tela para incentivar possíveis recrutas.
No Texas, milhares de pessoas foram acusadas de tráfico de pessoas desde que o estado iniciou uma operação chamada Operação Estrela Solitária, para controlar sua fronteira com o México, há quase quatro anos. Embora autoridades eleitas afirmem que estão mirando os cartéis mexicanos que comandam impérios de contrabando e tráfico de drogas, a maioria dos acusados no Texas são cidadãos americanos — e as prisões por tráfico aumentaram cerca de 1.150% depois que o estado iniciou sua repressão na fronteira.