O comandante do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), tenente-coronel Marcelo Corbage, contradisse o governador Cláudio Castro (PL) sobre o motivo de os confrontos da Megaoperação Contenção, em 28 de outubro, terem se concentrado na área de mata na Serra da Misericórdia. O oficial deu uma explicação diferente sobre a tática do “Muro do Bope”.
Na manhã daquela terça-feira, enquanto as forças de segurança ainda trocavam tiros com traficantes do Comando Vermelho (CV) no alto da Vacaria, parte da Serra da Misericórdia, Castro convocou uma coletiva e afirmou que levar os criminosos para a área de mata “foi pensado para encurralá-los lá para que a população sentisse o mínimo possível.”
Corbage, no entanto, deu outra versão em depoimento ao Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) na última segunda-feira (10). Segundo ele, o enfrentamento no morro se deu por “uma estratégia até então desconhecida” dos traficantes dos complexos da Penha e Alemão. “A intenção era preparar uma emboscada”, afirmou Corbage.
O relato do comandante consta na documentação enviada pelo MPRJ ao Supremo Tribunal Federal (STF), que espera receber até terça-feira (17), das autoridades fluminenses, informações detalhadas da megaoperação.
Corbage explicou que o planejamento inicial da operação foi alterado por conta de uma “armadilha” contra policiais civis.
O depoimento do comandante lembra as imagens de drone que mostram os criminosos fortemente armados se dirigindo para a área de mata durante a operação — alguns com vestes altamente camufladas, que lembra homens-planta — e que essa tática teria comprometido o que foi previsto na ação.
Segundo o tenente-coronel, “em razão da relativa falta de resistência, os policiais civis foram progredindo, sendo atraídos para uma armadilha”. “Esse evento acabou por comprometer o planejamento inicial”, destacou.
Segundo Corbage, “a agressividade demonstrada pelos criminosos nessa oportunidade fugiu a todos os padrões anteriormente detectados”.
“Normalmente há um comportamento de fazer um primeiro enfrentamento e, em seguida, empreender fuga; que desta vez, entretanto, os criminosos resistiram e sustentaram o fogo de maneira nunca vista”, afirmou.
O comandante do Bope afirmou que a ofensiva “deixou de ser uma operação para cumprimento de mandados e se tornou uma verdadeira operação de resgate”. “Isso se deu em função do alto número de policiais civis que começaram a ser vitimados”, disse.
Ele relatou que os 2 policiais do Bope mortos no 28 de outubro estavam no resgate dos agentes da Polícia Civil feridos e “que toda a dinâmica planejada para a cooperação teve que ser alterada no local diante do que estava ocorrendo”.
Ao MPRJ, porém, Marcelo Corbage afirmou que o objetivo original do Bope não era atuar na Vacaria, na área onde foi o confronto, mas garantir um perímetro de segurança na mata, evitando que criminosos de diferentes comunidades se reunissem no local.
Corbage contou que, pelo planejamento, atuariam na Vacaria equipes da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) e do Batalhão de Choque, mas que, com as notícias de policiais civis sendo atacados, “entendeu que era necessário atuar nesse resgate”.
Também em depoimento ao MPRJ, o delegado André Luiz de Souza Neves, diretor do Departamento-Geral de Polícia Especializada, confirmou que o “escopo da Polícia Civil não era o ingresso na mata”.
“Não tinha programação para entrar na mata, mas as circunstâncias ali, pô, o policial entrou na mata, ele viu alguma coisa, instinto até”, explicou.
O comandante da Core, delegado Fabrício Oliveira, também negou ter havido qualquer emboscada por parte das forças do estado e confirmou a “armadilha” dos criminosos.
“Então, se houve uma emboscada ali em algum momento, foi dos traficantes contra os policiais civis que estavam embaixo tentando cumprir os mandatos. Tanto é que, num espaço de tempo de poucos minutos, diversos policiais civis foram baleados, e 2 foram mortos com um tiro na cabeça”, declarou.






