A declaração do governador Cláudio Castro (PL), de que o Rio de Janeiro teria perdido a capacidade de combater o crime organizado, não surpreendeu os deputados da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
O tema ganhou destaque nesta terça-feira (28) após a megaoperação das polícias Civil e Militar nos complexos do Alemão e da Penha, que já registrou 22 mortos — entre suspeitos e agentes de segurança — e transformou a cidade num caos.
Os parlamentares se dividiram entre os que defendem maior apoio federal às forças estaduais e os que criticam a política de segurança baseada em confrontos armados.
Apoio federal e valorização da tropa
O deputado Marcelo Dino (União Brasil), que é policial militar, afirmou que a crise da segurança pública é um reflexo da ausência do governo federal no combate ao tráfico de armas e drogas.
“Essa é a realidade do Rio que o governo federal não quer ver. É a guerra diária da cidade. Não acho que o Estado perdeu sua capacidade. Na verdade, ele faz um papel que não é o dele. A PM e a Civil cumprem suas funções, mas a Polícia Federal é quem deveria impedir esse cenário. Se não houvesse fuzil, seria muito mais fácil. É algo triste, pois teve agente morto”, disse.
Na mesma linha, Carlinhos BNH (PP), também policial militar, considerou que a fala do governador com um pedido de socorro. “Acho que é uma demonstração de apelo, um pedido de ajuda ao governo federal, que não faz nada para ajudar o Estado. A Secretaria de Segurança pediu carros blindados, mas o pedido foi negado. O Estado sozinho não vai conseguir resolver esse problema. Quando temos policiais mortos, a guerra é perdida”, declarou.
Knoploch defende ação e promete derrubar veto à gratificação
O deputado Alexandre Knoploch (PL) esteve no Complexo do Alemão durante a operação e publicou um vídeo em apoio às forças de segurança. Ele destacou a necessidade de cooperação com o governo federal e defendeu a derrubada do veto à chamada “gratificação faroeste”.
A proposta, inserida como emenda ao projeto de reestruturação da Polícia Civil, prevê o pagamento de bônus entre 10% e 150% do salário a agentes que apreendam armas de grande calibre ou “neutralizem” criminosos em operações — expressão que, na prática, é entendida como a morte de suspeitos em confronto. Ela foi aprova pela Alerj em setembro, mas acabou sendo vetada pelo governador Cláudio Castro.
“A guerra contra o tráfico não pode ser travada apenas pelo Estado do Rio. As armas e as drogas não são produzidas aqui. É urgente que o governo federal assuma sua responsabilidade e entre nessa guerra ao lado do nosso Estado. Também lutaremos para derrubar o veto à Gratificação Faroeste, porque quem arrisca a própria vida pela população merece respeito, reconhecimento e valorização”, afirmou.
Crítica à política de confronto
A deputada Dani Monteiro (Psol), presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da Alerj, criticou a repetição de operações violentas e disse que vai acionar o Ministério Público e a Secretaria de Segurança para esclarecer os parâmetros da ação.
“Nenhuma política de segurança pode se sustentar sobre esse banho de sangue. O Estado não pode continuar tratando a vida de todas as vítimas como descartável, nem as favelas como território inimigo. É preciso garantir a proteção de moradores e policiais, priorizando direitos, inteligência e planejamento em vez de violência e terror”, afirmou.
Segundo ela, as operações têm se transformado em “operações vingança” e deixam marcas profundas nas comunidades. “Essa lógica não acaba com o crime organizado, apenas perpetua o ciclo de violência. O Estado precisa desmantelar os braços econômicos das facções, não os corpos dos jovens da favela”, completo






