Vídeos de meninas muito jovens mostrando “rotinas de casadas” têm ganhado espaço no TikTok, com hashtags como #casadaaos14, #casadaaos15 e até #casadaos13. As publicações exibem tarefas domésticas, referências a “maridos” e cenas que sugerem vida conjugal. Em alguns casos, os conteúdos acumulam milhões de visualizações antes de serem removidos pela plataforma.
Especialistas afirmam que esse tipo de conteúdo contribui para a romantização do casamento infantil, configurando a prática como algo “normal” ou “fofo”. Para Mariana Zan, do Instituto Alana, o fenômeno reforça estereótipos de gênero e mascara o caráter de violência envolvido. Mesmo quando feitos para viralizar, esses vídeos ampliam a percepção de que uma união precoce é aceitável.
De acordo com o Censo 2022, 34 mil crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos vivem em união conjugal no Brasil, sendo 77% meninas. Especialistas afirmam que o número pode ser maior ou menor que o real, mas que o fenômeno é conhecido e recorrente. Essas uniões estão associadas a vulnerabilidade econômica, evasão escolar, violência e gravidez precoce.
A legislação brasileira proíbe o casamento antes dos 16 anos, mesmo com consentimento dos pais, e não reconhece união estável envolvendo menores de idade. Ainda assim, conteúdos que sugerem vida conjugal infantil não são necessariamente barrados pelas plataformas. O TikTok afirma que remove publicações que violem suas diretrizes, mas muitos vídeos continuam circulando.
Com a sanção do ECA Digital, plataformas passam a ter responsabilidades mais claras na proteção de crianças e adolescentes. No entanto, especialistas alertam que casos como o do casamento infantil podem continuar passando despercebidos pelos filtros automáticos. A discussão mostra como a adultização de meninas e a busca por viralização criam um ambiente digital que exige vigilância constante.






