O Anuário de Gestão de Pessoas no Serviço Público de 2025 mostra que, embora negros representem 52% dos servidores públicos no país, sua presença cai para 38% nos cargos de liderança. O levantamento da República.org expõe uma contradição estrutural: a base do funcionalismo é majoritariamente negra, mas o topo permanece ocupado por grupos historicamente privilegiados.
A desigualdade se intensifica quando o recorte é de gênero. Apenas 15% dos líderes são mulheres negras, porcentagem bem inferior à de mulheres brancas, que somam 22%. Homens brancos continuam predominando nas posições de tomada de decisão, reforçando a distância entre quem compõe a máquina pública e quem a dirige.
O anuário aponta que a sub-representação de negros e mulheres nas chefias decorre de fatores acumulados ao longo de gerações. Entre eles estão o acesso desigual à educação, a ausência de formação prolongada e a falta de redes de apoio. O relatório defende que políticas de cotas precisam ser acompanhadas de estratégias de longo prazo para ampliar a diversidade no alto escalão.
Os dados também variam entre municípios, estados e governo federal. Enquanto 56,9% dos servidores municipais são negros, o percentual cai para 49,6% nos estados e 42,6% na esfera federal. No recorte de gênero, mulheres negras representam 37% nas prefeituras, mas apenas 12,5% no governo federal, evidenciando um funil que se estreita à medida que aumenta o nível de poder.
A desigualdade fica ainda mais evidente na remuneração. Mulheres negras formam o maior grupo entre quem recebe até 2 salários mínimos, enquanto homens brancos concentram mais de 40% dos salários acima de 10 mínimos. Nas faixas superiores a 20 salários mínimos, apenas 3,5% são mulheres negras, contra 58,8% de homens brancos. O relatório conclui que essas assimetrias reforçam um ciclo histórico de exclusão.






