Quem passa pelo Aterro do Flamengo ou visita o Jardim Botânico, na Zona Sul, pode presenciar um fenômeno que não deve se repetir tão cedo. As palmeiras talipot, plantadas há cerca de 60 anos por Roberto Burle Marx, entraram em floração simultânea neste fim de novembro. O evento, raro e grandioso, marca ao mesmo tempo a beleza e o fim do ciclo dessas árvores gigantes.
Originária do sul da Índia e do Sri Lanka, a espécie Corypha umbraculifera tem como característica florescer apenas uma vez antes de morrer. Entre 50 e 70 anos de vida, a planta acumula energia para produzir a maior inflorescência do reino vegetal. Quando o processo começa, ela direciona toda a sua vitalidade à formação de milhões de flores, o que leva à senescência.
Segundo Marcus Nadruz, coordenador da coleção viva do Jardim Botânico, a floração conjunta não é coincidência. Como todas foram plantadas na década de 1960, entraram em sintonia natural. A equipe notou o crescimento das inflorescências entre o fim de outubro e o início de novembro, com a abertura das flores registrada na última semana.
Os números impressionam: cada palmeira pode atingir 30 metros de altura e produzir até 25 milhões de flores, distribuídas em cinco pendões que chegam a 3,5 metros. Após esse esforço extremo, a planta começa a amarelar e perder folhas. O processo de secagem deve levar cerca de um ano, até que a árvore complete seu ciclo e morra, dando origem a milhões de frutos.
Técnicos monitoram diariamente as árvores, especialmente as que ficam próximas a áreas de circulação. Para evitar acidentes, o tronco será cortado de forma controlada antes de cair. Com a produção abundante de sementes, o objetivo agora é garantir novas mudas e espalhar a talipot por outras praças e parques do Rio, ampliando o legado da espécie na cidade.






