O chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, Alexandre Ramagem, foi acusado por organização criminosa, golpe de Estado e tentativa de abolição violenta do Estado de Direito pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
No documento de 517 páginas, o procurador-geral, Paulo Gonet, cita que não há dúvidas de que Ramagem municiava Bolsonaro de argumentos para atacar autoridades públicas, com o objetivo de desacreditar o Poder Judiciário e a ordem democrática.
Gonet afirma ainda que o ex-chefe da Abin auxiliou ativamente o entorno de Bolsonaro na construção de discursos e no reforço da mensagem de fraude eleitoral. Ramagem forneceu ao ex-presidente questões técnicas sobre as urnas eletrônicas para questionar a lisura do pleito de 2018. Segundo Gonet, ele teria feito um ‘aperfeiçoamento malicioso do discurso para conferir à mensagem uma aparência de tecnicidade’, ou seja, tentar convencer a população de que, de fato, havia fraude nas urnas eletrônicas.
Ainda de acordo com a PGR, as lives promovidas por Jair Bolsonaro eram munidas basicamente das pautas ilegítimas desenvolvidas por Ramagem. Além disto, o relatório traz arquivos apreendidos pela Polícia Federal, produzidos pelo então chefe da Abin, que mostram a ‘intensa atuação dele dentro do núcleo decisório mais restrito e relevante do país’.
Gonet conclui dizendo que Ramagem preparou uma narrativa totalmente difundida, ilícita, de combate às urnas eletrônicas, falando de fraude nas eleições e que, além disso, ele comandou espionagens ilegais baseadas em interesses particulares de Jair Bolsonaro.