A nova etapa de revitalização anunciada pela Prefeitura do Rio reacendeu o interesse pela antiga Praça Onze e seu entorno. O projeto, orçado em R$ 1,75 bilhão e financiado pela iniciativa privada, prevê demolição de viaduto, criação de novas vias e intervenções semelhantes às do Boulevard Olímpico. A área engloba Catumbi, Cidade Nova e Estácio, marcada por importância histórica e vínculos profundos com a cultura negra carioca.
Antes das obras, o cenário revela um acervo que ajuda a contar a formação cultural do Rio. A antiga Praça Onze, apagada nos anos 40 pela construção da Presidente Vargas, foi um dos redutos mais importantes para imigrantes, ex-escravizados e para o surgimento do samba. A Casa da Tia Ciata, referência para músicos e ritmistas, tornou-se símbolo desse movimento e cenário do primeiro samba registrado.
O território também carrega marcas de transformações urbanas que fragmentaram o bairro. A construção do Viaduto 31 de Março, no fim dos anos 70, demoliu cerca de 145 imóveis e rompeu a ligação natural entre Centro, Estácio e Catumbi. A abertura dos túneis Santa Bárbara e Rebouças ampliou esse impacto e contribuiu para a perda de vitalidade urbana e comercial.
Mesmo castigado pelo tempo, o Catumbi preserva joias arquitetônicas que atravessam séculos. Entre elas, o Chafariz Paulo Fernandes, de 1809, hoje desativado, e o Chafariz do Lagarto, de 1786, ambos tombados pelo Iphan. A Igreja de Nossa Senhora da Salette, de 1927, destaca-se pelo estilo gótico e pela ligação afetiva com a comunidade. A chaminé da antiga Usina Brasil de Açúcar relembra o passado industrial do bairro.
A região também marca o início da subida para Santa Teresa, pelo caminho que leva ao Largo das Neves, área preservada e integrada ao trajeto do bondinho reativado. Com o projeto de requalificação, o conjunto histórico ganha visibilidade e abre espaço para discutir preservação, memória e o futuro urbano de um dos territórios mais simbólicos da cidade.






