Ouça agora

Ao vivo

Reproduzir
Pausar
Sorry, no results.
Please try another keyword
CNU 2025: prova discursiva é neste domingo
Brasil
CNU 2025: prova discursiva é neste domingo
Michelle é a favorita de eleitores para apoio de Bolsonaro, diz Datafolha
Política
Michelle é a favorita de eleitores para apoio de Bolsonaro, diz Datafolha
Trem do Samba leva multidão aos trilhos e às ruas de Oswaldo Cruz
Rio de Janeiro
Trem do Samba leva multidão aos trilhos e às ruas de Oswaldo Cruz
No Rio e em cidades do Brasil, mulheres vão às ruas contra feminicídios
Destaque
No Rio e em cidades do Brasil, mulheres vão às ruas contra feminicídios
Tradicional Árvore da Lagoa volta a iluminar o Natal no Rio
Rio de Janeiro
Tradicional Árvore da Lagoa volta a iluminar o Natal no Rio
‘AeroFla’ tem confusão no fim e PM usa gás de pimenta e balas de borracha
Mais Quentes
‘AeroFla’ tem confusão no fim e PM usa gás de pimenta e balas de borracha
Estados integrantes do Cosud terão atuação conjunta para o combate ao crime organizado
Estado
Estados integrantes do Cosud terão atuação conjunta para o combate ao crime organizado

Rio teve 25 mil mortes por ações policiais em 28 anos, mostra levantamento

Rio supera números absolutos da polícia dos EUA no mesmo período.

Siga-nos no

O Rio de Janeiro registrou 25.283 mortes provocadas por ações policiais ao longo de 28 anos, número que representa 15% de todas as mortes violentas intencionais entre janeiro de 1998 e setembro de 2025. Os dados, levantados pela Folha de S.Paulo com base em registros do Instituto de Segurança Pública (ISP), apontam que a letalidade policial acumulada já alcança 170.338 vítimas no período. O levantamento não inclui as 117 mortes da megaoperação de 28 de outubro deste ano, a mais letal da história fluminense, que elevou para 121 o total de mortos com a inclusão dos quatro policiais atingidos.

Mesmo após quedas recentes, o Rio continua entre os estados com maiores números absolutos de mortes causadas por policiais — terceira posição do país — e aparece em sétimo lugar quando consideradas as taxas proporcionais. Especialistas lembram que estados com menor população, como Amapá ou Sergipe, podem apresentar oscilações bruscas nas taxas por cem mil habitantes, enquanto o Rio tende a registrar estabilidade, ainda que em patamar elevado. A última década foi especialmente crítica: entre 2015 e 2024, agentes de segurança mataram 11.550 pessoas, média anual superior à de todos os Estados Unidos no mesmo período, apesar de a população americana ser vinte vezes maior. Para a economista Joana Monteiro, da FGV, os números brasileiros chocam pesquisadores estrangeiros e expõem a normalização da violência policial no país.

A letalidade também atinge os próprios agentes. Nos últimos dez anos, 615 policiais foram mortos em serviço ou fora dele no estado, maior número do Brasil. Em São Paulo, que tem o dobro de habitantes, foram 463. Em 2019, quando o Rio atingiu o pico de 1.814 mortes cometidas por policiais, o estado liderou o ranking nacional em números absolutos e registrou taxa de 10 mortes por 100 mil habitantes — menor apenas que a do Amapá. A escalada de casos levou à abertura da ADPF das Favelas no STF, que passou a impor limites e protocolos às operações, contribuindo para reduzir parte da letalidade nos anos seguintes.

A gestão Cláudio Castro concentrou três das quatro operações mais letais desde 2007: a ação de outubro de 2025, com 121 mortos; o massacre do Jacarezinho, em 2021, com 28 mortes; e o da Vila Cruzeiro, em 2022, com 23. Entidades de direitos humanos classificaram a operação recente como massacre, enquanto o governo estadual afirma ter atuado de acordo com a ADPF das Favelas e contra uma organização fortemente armada. Castro atribuiu a escalada da violência a uma “corrida armamentista” motivada pela disputa entre facções.

Moradores e defensores públicos, porém, temem novas ações ainda mais violentas após a morte de quatro policiais na operação. A defensora Cristiane Xavier afirma que a repetição desse modelo amplia o risco de retaliações e mantém comunidades sob medo constante, defendendo que sem políticas sociais, reurbanização e alternativas ao confronto direto, o ciclo continuará se repetindo. O delegado aposentado Vinicius George segue a mesma linha e critica os resultados: em três décadas, diz ele, milhares morreram sem que o cenário de segurança apresentasse melhora. Para ele, insistir em estratégias fracassadas impede avanços e exige revisão urgente de políticas, com testes, ajustes e mudança de rota quando necessário.