O Terceiro Comando Puro (TCP), facção criminosa conhecida por incorporar símbolos e discursos ligados ao pentecostalismo, vem se expandindo pelo Brasil e se consolidando como a terceira maior força do crime organizado, atrás apenas do Comando Vermelho (CV) e do Primeiro Comando da Capital (PCC), aponta relatório da Abin (Agência Brasileira de Inteligência).
O grupo ganhou notoriedade no Rio de Janeiro a partir de 2020, quando passou a dominar cinco comunidades da zona norte, batizadas de Complexo de Israel, marcado por uma estrela de Davi no território controlado. Apesar de operações policiais, como a derrubada da simbologia religiosa e de imóveis ligados ao líder local Álvaro Malaquias Santa Rosa, o “Peixão”, a facção segue atuante, com trajetória do chefe ainda envolta em mistério.
Segundo a Abin, o TCP já atua em nove estados, incluindo Ceará, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Bahia, Amapá, Acre, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul. No Ceará, grafites com a estrela de Davi e frases como “Jesus é dono do lugar” foram observados em Fortaleza e cidades da região metropolitana, enquanto denúncias indicam intimidação contra terreiros de umbanda em Maracanaú. A Polícia Civil cearense investiga o caso, que resultou na prisão de 37 integrantes desde setembro.
O avanço da facção no estado ocorreu após aliança com o GDE (Guardiões do Estado), facilitando a ocupação de novos territórios. Pesquisadores apontam que o fortalecimento do TCP se apoia em três fatores: menor confronto com a polícia, parceria estratégica com o PCC, que garante acesso a redes internacionais de tráfico, e aproximação de milicianos, replicando práticas de extorsão.
Criado em 2002 após uma cisão do Comando Vermelho, o TCP mantém conflitos ativos com o CV, especialmente no Rio. A expansão para o Nordeste aumenta o risco de confrontos violentos, já observados em cidades como Maracanaú e Maranguape, onde tiroteios resultaram no fechamento de escolas e no esvaziamento de vilarejos.
O uso explícito de simbologia pentecostal e retórica religiosa fortalece a identidade do grupo, em um fenômeno que estudiosos chamam de “narcopentecostalismo”. Murais e grafites ligados a religiões afro-brasileiras foram substituídos por mensagens cristãs, consolidando o poder territorial e ideológico dentro das comunidades. No sistema prisional cearense, 43% dos detentos se identificam como evangélicos, cenário que contribui para a adesão a discursos religiosos e facilita o recrutamento da facção em meio a desigualdade social e desemprego.






