Um em cada quatro adolescentes no mundo poderá desenvolver obesidade ou transtornos mentais até 2030. O alerta faz parte da nova edição da Comissão Lancet sobre saúde e bem-estar de adolescentes, divulgada nesta semana. O levantamento atualiza o primeiro relatório, de 2016, e mostra que pouco mudou em uma década: 1,1 bilhão de jovens seguem expostos a problemas de saúde que poderiam ser prevenidos ou tratados, como depressão, HIV, gravidez precoce, má nutrição e lesões.
De acordo com os autores, a falta de investimentos e de prioridade política deixou os adolescentes vulneráveis a riscos antigos e a novas ameaças, agravadas por crises como a pandemia de Covid-19, mudanças climáticas e impactos do mundo digital. “A saúde e o bem-estar dos adolescentes em todo o mundo estão em um ponto crítico. Devemos priorizar o investimento na saúde dos jovens para garantir um futuro mais justo e saudável”, afirmou Sarah Baird, copresidente da comissão e pesquisadora da Universidade George Washington (EUA).
O relatório projeta que, até 2030, 464 milhões de adolescentes estarão com sobrepeso ou obesidade — 143 milhões a mais que em 2015. Em países da África e da Ásia, o número de jovens acima do peso aumentou até oito vezes nas últimas três décadas. Já em nações de alta renda, América Latina e Oriente Médio, a previsão é de que um terço dos adolescentes esteja acima do peso até o fim da década.
Os transtornos mentais também devem crescer. A estimativa é de que, em cinco anos, 42 milhões de anos de vida saudável sejam perdidos por causa de ansiedade, depressão e suicídio — dois milhões a mais do que em 2015.
O relatório ainda destaca riscos adicionais, como os efeitos das mudanças climáticas, que devem aumentar a ocorrência de doenças ligadas ao calor, insegurança alimentar, falta de água e impactos psicológicos. A transição digital também preocupa: embora amplie o acesso à educação e conexões sociais, pode afetar a saúde mental de jovens em um ambiente virtual cada vez mais presente.
A comissão defende maior liderança política, financiamento adequado e a inclusão dos próprios adolescentes nas decisões sobre saúde pública. Atualmente, jovens representam um quarto da população mundial, mas recebem apenas 2,4% da ajuda global destinada à saúde, apesar de responderem por 9% da carga de doenças.
A nova edição contou com a participação de mais de 200 adolescentes de 36 países, que colaboraram com propostas em laboratórios de soluções juvenis. A ideia, segundo os organizadores, é que eles deixem de ser apenas alvo das políticas públicas e passem a atuar como protagonistas das mudanças.