A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro apresenta nesta segunda-feira (3) ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), um relatório com denúncias de moradores do Complexo da Penha após a megaoperação policial da última semana, que deixou 121 mortos. O documento reúne relatos de violações, falta de transparência e ausência de apoio a familiares das vítimas.
O defensor público-geral Paulo Vinícius Cozzolino Abrahão entregará pessoalmente o material em reunião marcada para as 16h30, em Brasília. As denúncias recebidas pela ouvidoria externa da instituição apontam dificuldades de identificação dos corpos, impedimento de perícias independentes no Instituto Médico Legal (IML) e casos de desaparecimentos na região.
A audiência ocorre um dia após Moraes determinar a preservação de todas as provas da operação e o acesso integral da Defensoria aos laudos periciais, destacando a necessidade de garantir controle e averiguação do caso, que está sob a responsabilidade do Ministério Público do Estado.
A coordenadora de Defesa dos Direitos das Mulheres da Defensoria, Thaís Lima, afirmou que o órgão foi impedido de realizar perícias paralelas, apesar de possuir equipe técnica própria. “A perícia foi feita pela Polícia Civil e pelo MP-RJ, mas a população queria outra perícia para dar mais transparência”, disse. Segundo ela, o órgão só pôde visitar as instalações do IML, sem acesso aos exames.
A Polícia Civil informou que as restrições ocorreram por razões técnicas e de controle do ambiente, garantindo que todas as informações estarão disponíveis nos autos. Já a Secretaria de Polícia Militar declarou colaborar integralmente com as investigações.
Moradoras da Penha e do Alemão relataram à Defensoria a dificuldade de localizar parentes desaparecidos e o medo de serem criminalizadas por remover corpos da mata. Há denúncias de corpos ainda não encontrados. “Elas dizem que há um cheiro forte na mata e querem ter dignidade para enterrar seus filhos”, contou Thaís Lima.
A Defensoria pretende pedir o acesso às imagens das câmeras corporais dos policiais e às listas de atendimentos do Hospital Getúlio Vargas, para cruzar informações oficiais. A instituição também montou uma força-tarefa para apoiar as famílias, com equipes atuando no IML, em hospitais e nas comunidades.
A ativista Ana Tobossi, da Vila Cruzeiro, relatou que acompanhou mulheres que resgataram corpos de familiares. “Elas encontraram homens com marcas de tiros na cabeça e dedos mutilados”, afirmou. Segundo ela, as famílias seguem sem apoio psicológico e enfrentam dificuldades até para sepultar os mortos.






